Na manhã desta quinta-feira (14), último dia de programação do Acampamento Terra Livre, o movimento indígena recebeu movimentos sociais e do campo para firmar aliança em torno de lutas comuns
Por Andressa Zumpano/CPT Nacional | Imagens: Andressa Zumpano e Mídia Ninja
O último dia do 18° Acampamento Terra Livre, que ocorreu em Brasília, foi marcado pela plenária "Aliança dos Movimentos Populares para Fortalecer a Luta Indígena ", que reuniu diversos movimentos sociais e líderes religiosos. O momento destacou o compromisso desses grupos no enfrentamento dos retrocessos engajados pelo atual governo.
A plenária foi dividida em dois momentos, no primeiro, representantes de diversas religiosidades dialogaram sobre o tema "Nossa Terra é Sagrada". Líderes espirituais indígenas receberam no palco pastores, representantes da CNBB, do santo daime, das religiões de matriz africana, das religiões pela paz no Brasil e israelita. Durante a mesa foi apresentada uma carta aberta contra o Pacote da Destruição, reafirmando a posição destes representantes religiosos em relação às maldades do governo Bolsonaro contra a terra, as matas e a vida.
O segundo debate da manhã, reuniu representantes de diversos movimentos populares e organizações sociais, como Comissão Pastoral da Terra, a Articulação das Comunidades Rurais Quilombolas, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Fase, Vida e Juventude em Defesa dos Direitos Humanos, Comissão Pastoral da Terra, Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Conselho Nacional das Comunidades Extrativistas (CNS) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A mesa começou com uma fala do povo Wara'o, imigrantes indígenas da América Latina que já somam uma comunidade de mais de 7 mil indígenas no Brasil.
Ronilson Costa, coordenador da CPT Nacional, destacou em sua fala o compromisso da organização com a unidade na luta em defesa dos territórios "Não concordamos com o sistema imposto que tudo transforma em mercadoria: a Mãe Terra, nossas águas, nossas florestas, o ar que respiramos. Estamos aqui para dizer não à necropolítica de Jair Bolsonaro, de seus aliados e bajuladores a serviço do capital, do agrobanditismo e da mineração das grandes empresas e de todos os garimpos. Vocês estão aqui para defender a vida".
Alexandre Conceição, da coordenação do MST agradeceu aos povos da terra pelo cuidado com os bens da natureza. "Se hoje nós temos mata em pé, se hoje nós temos rios com peixes, se hoje nós temos ar puro é graças aos povos do Brasil, que vivem e protegem seus territórios".
Ele abordou a importância do campo unitário para barrar a "destruição que o capital tenta fazer na saúde, nos costumes, na cultura, na natureza", promovida pelo governo Bolsonaro através do pacote da destruição, que libera o uso de agrotóxicos indiscriminadamente, quer legalizar a grilagem de terras, permitir o avanço da exploração dos bens naturais sobre os territórios indígenas e de outros povos.
Sara Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reforçou os impactos nacionais e internacionais sobre povos e comunidades tradicionais “Este projeto de destruição compõe uma estratégia maior, pensada a partir do capital internacional em se apropriar de tudo o que for possível”.
“As consequências deste modelo a gente sente todo dia, com o aumento da perseguição às nossas lideranças e a construção de grandes empreendimentos”, afirmou a militante da MAB. Segundo dados da CPT, houve um aumento de 75% dos assassinatos em decorrência de conflitos no campo em 2021. Como forma de tornar público os dados acerca da violência no campo, o relatório Conflitos no Campo Brasil 2021 será lançado na próxima segunda-feira, 18.
A programação se encerrou com a leitura do documento final do Acampamento Terra Livre 2022, "Povos Indígenas unidos, movimento e luta fortalecidos". O documento trouxe como foco a unidade popular na luta em defesa dos direitos dos povos indígenas, do campo e da cidade.
"Assim, conjugado com as lutas nos nossos territórios, as mobilizações permanentes, junto à sociedade nacional e internacional, e a ocupação dos territórios virtuais, de mãos dadas com movimentos e setores aliados da sociedade, iremos removendo com o tempo e a ação coletiva o atual cenário de barbárie do capital, do ódio fascista e do racismo estrutural deste sistema, males implantados que atingem não só a nós os indígenas mas também a outros setores vulnerabilizados como os quilombolas, comunidades tradicionais, agricultores familiares e pobres, principalmente negros e negras, que vivem nas periferias das cidades brasileiras", reforça o documento.
“Retomando o Brasil: demarcar territórios e aldear a política”
Este ano, o Acampamento Terra Livre trouxe como lema “Retomando o Brasil: demarcar territórios e aldear a política”. Reunindo em dez dias de mobilização cerca de 8 mil indígenas de mais de 200 povos, acampados no gramado da Funarte, em Brasília.
O tema traz como perspectiva a luta em defesa dos territórios no enfrentamento dos inúmeros impactos enfrentados pelos grandes empreendimentos, mineração, agronegócio e pelo desmonte das políticas de proteção às águas e florestas. Também reforça um debate mais ampliado em torno das pautas indígenas dentro do cenário político, com o lançamento de dezenas de candidaturas indígenas durante o evento, a fim de unir corpo na disputa eleitoral para Congresso Federal e nas Assembléias Legislativas dos estados.
Sônia Guajajara, da Coordenação da APIB, refletiu sobre os desafios deste ano de 2022. “Temos a missão de aldear a política e vamos resistir entrando pela porta da frente daquele Congresso Federal. Em 2023 teremos a bancada do cocar”, destacou.